30 de agosto de 2011

Lait renversé

De poeira ele havia se sujado ao cair no chão e pela primeira vez não havia sido enxuto por pano sujo. Branco e doce, era o leite que a mulher amorosa havia preparado para os amorosos filhos e para o amoroso marido. Branco era a cor do ódio destilado dos que lhe seguravam a garganta agora. Doce era o que suas lágrimas não eram, e que grande ironia também eram, ela estava chorando sob o leite derramado pelas mãos brancas para as quais implorava pela sua vida. Branco era a cor de seu vestido rodado, comprado pelas mãos negras do seu amado esposo que a amava tanto, amado esposo que muito distante dali arrancava no chão uma flor branca para enfeitar os cabelos negros da amada esposa de bochechas cor de terra escura assim como os seus bonitos e brilhantes olhos, o amado esposo jamais havia deixado de vê-la como a coisa mais bonita que já havia visto na vida, o amado esposo desde a primeira vez que a vira sabia que a queria como sua amada esposa para toda sua vida. Branco também era a cor dos dentes expostos da amada esposa que agora gritava enquanto o ódio branco lhe tirava algo que antes era só de seu amado esposo, algo tão especial que a amada esposa havia decidido guardar e dar somente ao amado esposo desde a primeira vez que o havia visto colhendo algodão na fazenda de seu senhor. Naquele momento ela só conseguia pensar naqueles algodões brancos, por que o homem branco não era capaz de ser tão gentil como o algodão branco? Logo o amoroso marido chegava, mas que pena, as flores brancas ele deixou cair sujando-as de poeira. Os amorosos filhos também deixaram lágrimas caírem sobre elas assim como a amorosa mãe havia deixado sob o leite. Com os braços negros fortes, o amoroso marido pegou nos braços a esposa e a corda de seu pescoço tirou, deitou-a no chão e colocou as flores sujas em seu cabelo negro enquanto via sua casa de paredes brancas se tornar negra pelas mãos do fogo, fogo servo das mãos brancas regadas do ódio branco que matara sua esposa da cor de terra molhada.

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