26 de agosto de 2011

Disgracieux

Falava. Eu falava muito. Ela falava demais também, mas nada dizia. Só falava e falava. Falava palavras que mesmo com sentido não adquiriam nada. Era sempre concordância. Nada a completar e tampouco a adicionar. Não havia opinião forte nem fraca, era só opinião. Tudo o que eu dizia debatia sozinha, enfrentar-me ela não sabia, ela só concordava e mesmo em discordância, não teimava. Não tinha gosto de sal, mas também não tinha sabor doce. Nada de muito importante lhe era creditado, nada feito era motivado por força além da mecânica. Era tudo sempre a mesma coisa. Meus beijos sempre eram correspondidos, mas aonde estava a paixão? Ela me beijava e eu também a beijava, mas nada se sentia além do físico. Nada, era tudo maquinado e automático, tudo mecânico e sem fervor. Era linda, mas que graça ela tinha? Sua beleza era superior à de qualquer mortal, mas, novamente, que graça tinha nela? Era tão bonita e mesmo de traços incomuns, ela era comum. Não tinha sabor, não tinha fogo. Sempre era nude, nunca branco, nunca preto e nunca cinza, era só nude. Nada forte, nada destacado. Uma linda cor, mas uma cor tão neutra. Seu chá não era nem amargo e nem doce. Seus movimentos nem rápidos nem lentos. Eram só movimentos. Sua tristeza era a indiferença e seu amor também o era. Ela não tinha nada a acrescentar, era normal e não sabia falar mais do que uma garota normal sabe. Parecia adestrada e alienada. Muito comum. Muito robótica. Que é que ela tinha? Ela tinha gosto neutro, ela era neutra e agia neutro. Ela era como água. Insípida, incolor, inodora. Não tinha forma. Não tinha nada de mais. Ah, eu a amava, mas ela era tão sem graça. Eu a amava, mas perto dela eu era mais vermelho que comum e perto de mim ela era nude demais.

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