15 de dezembro de 2010

And time makes it harder

"Estava atrasada para o jornal e não achava a bendita chave do carro, aonde eu poderia tê-la posto? Cheguei até mesmo a pensar que Hércules a havia devorado, mas voltei e me lembrei do quão aquele meu velho amigo era lento até mesmo para comer seu mingau matinal. Revirei todas as partes da casa, todas. Me lembrei que andei pegando minhas malas no armário de meu escritório, fui verificar lá também e não achei nada, apenas uma velha bolsa que usava bastante durante meus semestres passados. Resolvi pegá-la, lembrei-me dos documentos perdidos e a joguei na escrivaninha, olharia depois. Parei e achei uma caixa, minha caixa de sonhos e recordações, meu eterno relicário. Peguei e deixei lá embaixo, odiava vê-lo porque sempre me fazia mal, mas resolvi procurar algo por lá. Provavelmente acharia algo de Yan ou de Edward, como sentia falta deles. Depois de Hércules eram meus melhores amigos. Estava pesada e logo deixei que caísse ao chão de uma altura baixa. De cima da escada vi a chave num vaso de planta e corri, a peguei então e sai finalmente (...) Cheguei em casa tremendamente abatida. Estava cansada. Estava triste. Eu podia perder meu emprego, e isso era algo horrível, ainda mais pra uma universitária dos bolsos vazios e a barriga roncando. Suspirei fundo e me joguei na poltrona, escutei o telefone no escritório tocar e me arrastei até lá, atendi, o sindico estava avisando sobre mais uma reunião com aquele sotaque fajuto. Desliguei após confirmar falsa futura presença. Vi a caixa e ai então me lembrei dela, sorri de canto. Estava tão triste e tão mal, nem mesmo queria vê-la, meu estômago já estava embrulhando como sempre fazia ao se lembrar do quão aquele passado trancado ali doia (...) Tanta porcaria, coisas das quais nem me lembrava, cartas de Emme, alguns desenhos de Mérope, fotos, flores e um brilho rosa com um pedaço de aluminio. Um sorriso de orelha a orelha me brotou, eu lembrava bem. Era a segunda vez que eu o encontrava daquela forma e desta vez estava junto de um pequeno desenho de coração. Como eu sentia falta de conversar com ela. Mas tinha medo, muito medo (...) Sem ver tomei coragem e me levantei, desliguei o som, enxuguei o rosto e revirei a lista telefônica, achando finalmente o tal número. Chamou, chamou, demorou, pensei em desligar, mas meu pensamento foi cortando quando escutei a voz tão conhecida:
- Alô? - engoli seco e suspirei fundo, fiquei muda - Alguém na linha? - O que falar? Fiquei muda, respirei fundo - Alô?
- Meridiana? Hey... - Era mais um sussurro, sempre era.
Por um instante percebi o quão havia sentido falta dela. Saudade, de verdade."

Trecho de meu livro que estive escrevendo agora a pouco, dedicado à Mariana Fiori e seu sonho de valsa, cuja falta eu senti por um bom tempo e bem, cuja paciência comigo merecia um "obrigada" mais original, ainda mais com essas últimas madrugadas de palhaçadas minhas. Aprender o que é saudade dói, mas é gostoso quando a gente acaba matando as saudades de uma velha amiga assim. Obrigada pequena.

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