8 de março de 2011
Pourquoi ce blame?
O Fogo devorava o carvão que se tornava pó com seu toque faminto, ele parecia contar histórias, parecia querer compartilhar algo. Eu, ouvinte atenta escutei cada palavra que dizia e terrivelmente descobri que as histórias dele eram as mesmas das minhas. Me contava e mostrava seus contos com aquela fumaça branca com cheiro de hortelã, cantava para mim com seu crepitar e suas chamas dançavam para mim conforme o ritmo dos tambores rufando em minha mente. Ele me dizia pra ficar calma, ele, aquele mesmo álcool que descia pela minha garganta parecia estar tão quente quanto o Fogo, me queimava e rasgava por dentro, a cabeça logo dava voltas. O calor emanava dentro da pequena cozinha antiga caindo aos pedaços, lá fora a chuva caia forte e o frio arrancava de qualquer um a alma. O vento, ah, o vento, o vento batia furioso nas janelas e portas ordenando que eu as abrisse para que pudesse entrar, querendo alimentar o Fogo. Poderiam fazer coro e eu não abriria a porta. Estava gostando da solidão. Gostando das histórias. Foi quando me lembrei Dela, aquela que me foi tudo. Eu sempre evitei pensar nela porque costumava a chorar com a simples menção de seu nome, e que choque, eu já não me lembro mais de como seu rosto, é como se nunca tivesse existido e agora nada mais é que figurante no fundo de minha mente, só um personagem em meus livros, nada. Suspirei por um tempo, me senti mal por dar tão pouco valor à alguém que me fez bem certo tempo, mesmo que pouco. Eu não queria ser aquele fogo que se deixa esquecer. Me recusava a aceitar isso. Foi quando o Fogo riu e me disse que éramos uma só coisa, um só ser e uma só brasa que queima até o carvão se tornar cinza. Eu havia queimado o carvão e agora que suas cinzas haviam sido levadas pelo vento, ele não me tinha serventia, eu não desejava ali mais e estava feliz com isso. Afinal, estava sendo melhor assim. Eu era assim, eu era fogo. Eu sou fogo e o Fogo é a manifestação de tudo aquilo que eu guardo dentro de mim. Fogo, simples e furioso fogo.
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De dar arrepios, muuito bom e cativante!
ResponderExcluirYuri Campos