28 de janeiro de 2012

La poupée autre fille

A minha boneca é de outra menina. Sim, a minha não é minha. É minha porque eu tomei pro meu peito que era, mas nem ele se engana mais... A minha boneca não é minha boneca. Pode estar em minha estante, pode dormir no meu abraço, pode me dizer que só pensa em mim, mas ela não é minha e seu botão vermelho em forma de coração não é meu. Seu cabelo de lã preta não é perfumado para me agradar. Seus olhos de botão amarelo não olham os meus. Seu sorriso eterno também não é pra mim, tampouco foi costurado pensando em mim. A minha boneca não é minha, ela está na minha estante, mas a dona da minha boneca é outra menina e como criança que tem brinquedo roubado eu choro. Choro sempre que me lembro da sua voz, sempre que sinto seu perfume, sempre que busco seu toque frio. Eu choro. Choro mesmo. Choro porque sei que não a possuo, choro porque gosto dela, choro porque ela é de outra menina, choro porque mente dizendo estar onde deveria estar, choro porque mesmo sabendo que não sente nada eu não consigo esquecê-la...

14 de dezembro de 2011

L'opposition

"Lex III: Actioni contrariam semper et aequalem esse reactionem: sine corporum duorum actiones in se mutuo semper esse aequales et in partes contrarias dirig"

Como eu poderia prever tal coisa? Minha amada era sim minha grande adversária. Com golpes fatais me golpeava e todas as noites me fazia sangrar e aos prantos chamar por seu nome implorando por clemência e perdão de atos que não estava certa de ter cometido. Através do universo ecoavam os meus gritos e pelo seu peito a minha agonia. Parecia sentir prazer com aquilo. Parecia realmente se sentir bem com tais atos de covarde crueldade como se meu desespero alimentasse terrível leoa dentro de si. Por um tempo, doeu em mim e me perguntava quando iria parar tal sangue escorrendo em meu rosto; então doeu nela e em mim, o sangue escorria pela minha pele e espirrava na dela; foi ai que como fera acuada me dei a liberdade de fugir, de correr e como um católico pecador, ela chicoteou-se até sentir o corpo sangrar. Um bilhete me deixou e disse: "Dói bem mais em mim que em você agora..." e então a terceira lei de Newton foi aplicada. Quando dois titãs se chocam, um caí, mas sempre derruba o outro com a força gerada por tal impacto.

28 de novembro de 2011

Ma fille ...

Sendo honesta? Até hoje eu não sei porque gosto tanto de você. Eu simplesmente gosto, sabe? Só gosto… Não sei se há uma explicação para isso e mesmo que exista uma, não sei se quero saber qual é. Tudo está bem assim. Eu gosto de você e entendo isso mesmo sem compreender as razões. Só gosto… Gosto do seu cabelo quando o vento o bagunça, gosto de te ver tentando arrumar antes que eu o veja desarrumado, gosto de como fica corada quando digo que fica ótima descabelada e gosto mais ainda do “idiota” risonho que diz fingindo estar brava. Gosto dos seus olhos castanhos me olhando, gosto do brilho que os meus pretos tem quando os vejo refletidos nos seus, gosto de como os seus brilham ao me ver, gosto de como sorri quando vê que os meus também brilham ao te ver, gosto de como só os seus olhos tem essa cor tão bonita. Gosto do seu nariz arrebitado de arrogância e cheio de ar de mandona, gosto de quando o enfia nos livros e só o tira de lá para retrucar minhas maluquices, gosto desses seus olhos querendo explicar algo aos meus que relutam recusando a explicação, gosto do seu nariz se torcendo em raiva por isso e acabo torcendo o meu nas risadas para seu contragosto, gosto quando se rende e começa a rir também das minhas loucuras. Gosto de como dorme, gosto de te ver dormir, gosto de como finge não saber que perco a noite te assistindo sonhar, gosto de como as estrelas vem todas para a janela se juntar a mim para observá-la mexer-se na cama acordando bem aos poucos, gosto de como o sol te chama e você volta pro mundo real, gosto de como me olha com cara de quem queria dormir mais, gosto das meias que você perde entre os lençóis durante a noite. Gosto de você. Gosto, só gosto…

1 de outubro de 2011

Sourires, larmes, douleur ...

Pegou a minha mão e tocou com ela o seu rosto, olhou-me fundo nos olhos e sorriu como quem havia estado infeliz por muito tempo e por um lapso de segundo eu achei que o era, mas por que era? Acariciei seu rosto e a vi cerrar seus olhos cor de terra como se estivesse em rendição, a bochecha morena tingir de rosa, os lábios já rosados morder. Minha tão querida amante... Minha tão triste mulher. Abraçava-me com tanta saudade que eu sequer acreditava que tal força herculana era mesmo dos seus magros braços, parecia não me ver há anos, parecida ter dado fim à uma longa espera que se havia estendido por milênios, entretanto, era uma pena que tal força só lhe fosse presente nos braços uma vez que suas pernas tremiam e falhavam, derrubando-a em meus braços trazendo-a para meu abraço. Ria feito louca e chorava como uma velha desesperada, não sabia se sorria também ou se me preocupava até ver tão genuíno sorriso estampado em seu rosto. Não sabia já há quanto tempo não a via sorrir com tanta sinceridade nos lábios, não sabia mais dizer quanto tempo fazia que eu não via tamanha simplicidade e pureza em um mero sorriso. Era tão verdadeiro que me arrancava um sorriso de igual felicidade e sinceridade, de tamanha felicidade e simples pureza, simples alegria. Meu coração saltava e podia ouvir o seu dançar junto do meu, ambos frenéticos, loucos, agitados, sedentos pelo outro. Era tão linda aquela alegria no seu sorriso e o brilho estampado nos seus olhos... Era tão bom saber que aquela alegria era por mim e que o tempo não a havia matado ainda, que eu ainda a fazia sorrir e que ela ainda era capaz de perdoar minha ausência aguardando-me cheia de mimos. Era tão bonito de ver como gostava dela e ela de mim... Mas ah, que tristeza. Acordei.

30 de setembro de 2011

Rosée

Me peguei pensando em você de novo. Pergunto-me o motivo dessa frequência em me lembrar de você. Eu não havia te esquecido? Bom, eu amo menos acreditei que o tivesse feito. Novamente, estou me lembrando de como foi nosso adeus e sabe, não foi um adeus, não foi sequer um "tchau" ou um "até mais". Foi só silêncio. Me pergunto todos os dias porque não quis me dizer adeus, mas porque não voltou também se não queria ter ido. Eu sei que o que encontrou não era o que queria e nem o que você quer agora. É vazio. É falso e é até mesmo feio. Talvez tenha sido infeliz comigo. Certo, não talvez, você foi infeliz comigo, mas o que quer dizer essa tal felicidade, não é? Eu te amava, eu te amo. E você sempre me amou de volta, talvez até mesmo mais do que eu te amei. Eu te machuquei, eu vejo isso agora, mas você não havia me machucado também? Eram gritos, brigas, ofensas e uma agressividade de tanta selvageria que a lembrança me assusta até hoje... Eu era um monstro, não era? Eu sei que era. Sei que ainda o sou. Um monstro, mas sabe? Acredito que é você quem me deixe assim. Você controla e enlouquece a minha mente como se eu não conseguisse mais pensar estando perto de você. É tanto ciúme, é tanto ódio, tanto tudo. Eu só quis o tempo todo te trazer perto, te colocar do meu lado e não deixar que mais ninguém visse o quão bonito era esse tesouro que eu tinha e no meu egoísmo, eu perdi você. Eu amo você. Eu sempre amei. E sempre amei só você. Cometi pequenos grandes erros, menti, traí, iludi, gritei, acho que até bati, mas posso dizer sem erro que ninguém nunca te amaria como eu amo você, como amei, como amarei. Não importa quanto tempo passe, quem apareça na minha vida, eu sei com certeza de que eu ainda me lembrarei do seu sorriso daqui há muitos anos, de cada motivo que você me deu para ficar feliz, de cada beijo e especialmente de cada lágrima enquanto me jurava o amor que eu já sabia ser real. Há dias em que sinto tanto sua falta que sinto que vou morrer de saudades, há dias em que você passa reto por mim e eu quero chorar, há dias em que me olha com aquele olhar de fúria e quero poder te abraçar e te pedir perdão e há os dias em que eu desejo acordar como costumava acordar no seu abraço no meio de uma manhã vazia, escondidas no quarto matando a aula. Há dias em que eu queria tanto que estivesse aqui que quero simplesmente morrer por não ter mais, por ter tido e ter te deixado ir sem nem mesmo ter tentado trazer de volta. Eu te amo, eu sempre amei, sempre irei amar. Eu não te esqueci, nunca esqueci e jamais esquecerei. Você não é simplesmente metade de mim, não é simplesmente a outra metade que me completa. Você é tudo.

15 de setembro de 2011

Ma chérie

"Quem é ela?" me perguntou um velho amigo, "Que faz ela?" perguntou-me o outro. Pensei e pensei, eu sabia a resposta, mas como simplificá-la? Ela é como um clarão no meio da noite, é como uma luz que brilha e entontece qualquer mente, é como um brilho cuja luz emanada te ofusca a visão, é como clareza que te cega ao ver. Durante o dia de sol, durante a noite escura, durante a manhã chuvosa, durante a tarde vermelha, você brilha, você inebria minha alma, povoa meus pensamentos, inspira minha escrita e não somente à ela, você inspira e fascina tudo aquilo que se faz presente em mim, desde o mais simples sorriso ou mais salgada lágrima até as mais profundas e complexas filosofias. Engraçado é como ela, de uma forma ou de outra, contradiz tudo que digo. Bonito, bonito é como tenta desarmar meus argumentos com seu pessimismo e desiste do mesmo em alguns instantes. Mal sabe que tremo só de pensar em seus contra argumentos, que sempre me paralisam e emudecem. Não sei ao certo o que é, se é ela, se é seu sorriso, se é o brilho dos seus olhos ou se é novamente o plano sentimental interferindo no físico. Mas quem é ela? Eu sempre acreditei que seu nome fosse esse, mas é aquele outro. Ah, brilho, como é lindo o seu brilho e sua luz. Sua presença desafia o tempo e o espaço, tudo desaparece com sua presença e o tempo voa na velocidade da luz, na sua ausência um dia se torna um século e o mundo parece pesado. Então, me perguntaram dela, me perguntaram quem era ela, quem era ela aquela que tanto me fazia sorrir. Eu lhes disse "Ela é criatura noturna. Ela é a contradição das minhas ideias e sou a contradição da mente dela. Ela é de quem gosto, e eu sou dela".

30 de agosto de 2011

Lait renversé

De poeira ele havia se sujado ao cair no chão e pela primeira vez não havia sido enxuto por pano sujo. Branco e doce, era o leite que a mulher amorosa havia preparado para os amorosos filhos e para o amoroso marido. Branco era a cor do ódio destilado dos que lhe seguravam a garganta agora. Doce era o que suas lágrimas não eram, e que grande ironia também eram, ela estava chorando sob o leite derramado pelas mãos brancas para as quais implorava pela sua vida. Branco era a cor de seu vestido rodado, comprado pelas mãos negras do seu amado esposo que a amava tanto, amado esposo que muito distante dali arrancava no chão uma flor branca para enfeitar os cabelos negros da amada esposa de bochechas cor de terra escura assim como os seus bonitos e brilhantes olhos, o amado esposo jamais havia deixado de vê-la como a coisa mais bonita que já havia visto na vida, o amado esposo desde a primeira vez que a vira sabia que a queria como sua amada esposa para toda sua vida. Branco também era a cor dos dentes expostos da amada esposa que agora gritava enquanto o ódio branco lhe tirava algo que antes era só de seu amado esposo, algo tão especial que a amada esposa havia decidido guardar e dar somente ao amado esposo desde a primeira vez que o havia visto colhendo algodão na fazenda de seu senhor. Naquele momento ela só conseguia pensar naqueles algodões brancos, por que o homem branco não era capaz de ser tão gentil como o algodão branco? Logo o amoroso marido chegava, mas que pena, as flores brancas ele deixou cair sujando-as de poeira. Os amorosos filhos também deixaram lágrimas caírem sobre elas assim como a amorosa mãe havia deixado sob o leite. Com os braços negros fortes, o amoroso marido pegou nos braços a esposa e a corda de seu pescoço tirou, deitou-a no chão e colocou as flores sujas em seu cabelo negro enquanto via sua casa de paredes brancas se tornar negra pelas mãos do fogo, fogo servo das mãos brancas regadas do ódio branco que matara sua esposa da cor de terra molhada.